domingo, 31 de outubro de 2010

Hoje, não passa de lembrança.

“Mas eu não sou daqui, marinheiro só
Eu não tenho amor...
Eu sou da Bahia, de São Salvador...”



Na verdade, o que tenho é só amor
sou todo amor
agora, mais que amor, sou saudade
sou desejo de você
suplico pela sua presença aqui
vontade de te ter aqui, ao meu lado
de sentir seu cheiro bom
seu calor, seu desejo
seu sangue quente que faz o meu ferver,
entrar em ebulição
mas nunca sublimar.
Sou desejo da sua voz chamando pelo meu nome
sou a inquietação de suas mãos tocando meu corpo com vontade
sou a intensidade em estado puro
que clama, grita, explode no peito.
Sou aquela vontade louca de você
e a minha pele sabe bem o que digo
ela sim, tem memória de elefante
se lembra do que sinto quando nos beijamos e declaramo-nos sãos
eu, mais mulher que agora
mais viva que agora
imortal nos meus sentidos quando despertados por você.
Sou o sorriso de quem nada quer
sorriso que mente, porque eu sei
eu muito quero
eu tudo quero
e quero com você, mesmo sabendo que não é certo
porque o que quero mesmo é poder gritar, é poder querer, é poder sentir
e isso, só com você eu posso.
Muito mulher, mas ainda menina, te espero
pra despertar os meus raios todos de mulher
e te mostrar que eu posso, mas você não vai poder me esquecer.


Nota: é uma pena que do editor não conste a data correspondente à redação deste poema, que foi posteriormente editado, o que impossibilita que eu informe aqui a data em que foi redigido, mas acredito que isso tenha ocorrido em setembro de 2006.
Esse poema foi escrito numa folha de bloco do hotel no qual eu estava hospedada na ocasião de uma viagem que fiz com meu pai, com destino à São Paulo.
Pouco tempo se passou e esse relacionamento foi desfeito, mas devo reconhecer que apesar de toda a dor, muito me ensinou.
Esse poema é herança de um momento daqueles em que a inspiração se dá de forma muito intensa.
Foi a mais arrebatadora de todas as paixões que já vivi até hoje, certamente...
Não um amor mal vivido... não chegou a ser amor.
Durante muito tempo permaneceu, essa relação, na condição de paixão mal resolvida.
Hoje, não passa de lembrança.

domingo, 24 de outubro de 2010

"... que toda noite será eterna como no sonho que insistimos em ter..."

Canção em volta do fogo
(Márcio Vaccari e Marcelo Hayenna)

Se o amor, então, se cansou
durma pela lua, eu vigio
se o céu te parece ruir em pedaços de vidro
dançaremos em volta do fogo, subiremos com a maré
e amanheceremos de novo

Se o nosso olhar se perder em horizontes tão estranhos
e o mundo insistir em girar como numa ciranda
deixaremos as luzes acesas e abriremos as portas da casa
para termos, então, a certeza
que toda noite será eterna como no sonho que insistimos em ter

Então durma, durma
que o dia não demora a sangrar
com o canto do primeiro galo
então durma, durma
que o dia não demora a sangrar
quando o primeiro galo cantar.

Nota:
"Deixaremos as luzes acesas e abriremos as portas da casa, para termos, então, a certeza que toda noite será eterna como no sonho que insistimos em ter..."
Essa música combina a extrema delicadeza da melodia com a letra, que é poesia em estado puro.
O mundo insiste em girar como numa ciranda, mas há quem sonhe e, melhor que isso: há quem sonhe acompanhado.
Já dizia Raul que sonho que se sonho só é sonho que sonho só, e sonho que sonho acompanhado é o começo da realidade.
Adoro essas músicas plenas de delicadeza, de poesia e de suavidade... são um porto seguro pros dias em que nem tudo é como a gente quer.
É um conforto, uma carícia...
É um contemplar de apaixonado, o suspirar profundo daqueles que tem tanto pra dizer...
É um instante de paz, dentro de um coração que vive um eterno caos
Um coração cuja bagunça de feridas cutucadas também deixa a poeira debaixo do tapete, por total incapacidade de enfrentar o peso do que se foi.
Eu bem disse certa vez, um tanto quanto poeticamente, que enquanto houver vida, haverá tempo: tempo pra tudo, e é nisso que eu quero acreditar, é isso que me impulsiona, é por isso que tenho tanta vontade de me ver cada vez mais forte, cada vez mais viva, cada vez mais mulher...
E é por ser uma eterna persistente, uma eterna resistente, que eu não desisto: por mais que me sinta desanimada, nada me tira as forças e a vontade de prosseguir.
Há tanta vida lá fora e aqui dentro, desse meu coração que é a desordem em forma de músculo involuntário, SEMPRE.
É isso que me move. É isso que me tira da inércia.
Aos poucos, tudo se ajeita.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"Erro o passo e perco o compasso"

http://www.youtube.com/watch?v=q6Yw3SUwRfQ

Torre de Babel
(Ezequiel Neves - Guto Goffi - Roberto Frejat)

Se eu chego, você tá saindo
a gente ama odiando, mas não me deixe sozinho
me dá pão com veneno jurando fidelidade
mas sua verdade não me engana nesse tempo de maldade

Que piração!
Eu tô na terra ou no céu?
Ninguém se entende nessa torre de Babel

O mundo tá acabando
não vai sobrar quase nada
a nossa hora tá chegando e ainda fazem piada
apertando o cerco, você se desespera
não há remédio, você tá na terra

Que piração!
Eu tô na terra ou no céu?
Ninguém se entende nessa torre de Babel.

Nota:
"Me dá pão com veneno jurando fidelidade, mas sua verdade não me engana nesse tempo de maldade".
"Ninguém se entende nessa torre de Babel".
É um desdizer-se sem fim.
A total falta de correspondência entre o que foi dito de um lado com o que foi dito do outro, e eu, no meio de duas pessoas que se contradizem, fico com cara de interrogação, "erro o passo e perco o compasso".
Se eu pudesse, faria uma acareação: colocaria um diante do outro e me ocuparia tão somente em analisar quem mente ou quem cala a verdade. Quem blefa nessa história?
Agir assim é leviano, pra não usar uma palavra mais agressiva.
Assevero aqui o que eu já deixei consignado mais cedo no twitter (/marilia_gavin): "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória". Há quem não perca por esperar.
Não, eu não estou desejando mal: não sou capaz desses sentimentos mesquinhos.
Isso é só uma constatação.
Por saber o que me é caro, não hei de deixar barato.

domingo, 10 de outubro de 2010

Você que é daqui. Você que é do lado de lá.

"Tô na Bahia e tô sentindo frio
praia tá cheia, e em mim, tudo vazio
quebrei a corda, eu tô por um fio, menina

Eu te procuro até eu não poder mais
na internet, bares, nos jornais
TROMBAR VOCÊ É O QUE EU QUERO MAIS, MENINA..."
(Beijos, blues e poesia; Edson Carvalho)

Vazio
(Fernanda Mello)

Hoje é dia vazio.
Buraco no coração.
Ausência de pensamento.
Minha palavra fica muda.
Sem você,
Sou menos poesia.

Com que letra eu vou?
(Fernanda Mello)

Se não deu certo
Apague e recomece
Esqueça o que ficou
Esqueça a culpa
A falta de plano
Esqueça a dúvida
O que foi quase engano

Apague e recomece

É sempre hora de mudar
De virar a página
E se reinventar

(Mesmo que doa, aprender não é um processo à toa).

Nota: tudo isso. Tudo isso junto.
Eu tenho muito o que dizer, mas não sei com que palavras.
Na bagunça do meu coração, perdi o rumo, o sono, uma parte da paz de espírito... mas não me abandonei, até porque nada justificaria tal atitude.
Não por acaso (nunca por acaso) aquilo que cai como uma luva se materializa na nossa frente na hora certa.
Uma palavra, um olhar, um gesto...
Aquilo que não foi dito permanece nas entrelinhas.
Ainda tenho o olhar perdido, o pensamento desordenado, os passos imprecisos e a dificuldade de me fazer entendida...
Não sei até quando.
O que sei é que não estou sozinha, e isso me conforta a alma.
Me conforta saber que há quem zele por mim, aqui e do outro lado.
Muito obrigada por me ouvir, você que é daqui.
Muito obrigada por me fazer estacar por duas vezes, você do lado de lá.
Tenho muito o que agradecer, por tudo.
Tenho muito o que amadurecer, pra tudo.
Penso que quem já teve pressa pode se permitir andar devagar.

"Coração na boca, peito aberto
vou sangrando
são as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando..."
(Sangrando; Gonzaguinha)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A frase do dia, da tarde e da noite!

"Eu ponho o amor no pilão com cinza e grão de roxo e soco. Macero ele, faço dele cataplasma e ponho sobre a ferida". (Adélia Prado)

domingo, 3 de outubro de 2010

Feliz

(Gonzaguinha)

Para quem bem viveu o amor
duas vidas que abrem não acabam com a luz
são pequenas estrelas que correm no céu
trajetórias opostas, sem jamais deixar de se olhar

É o carinho guardado no cofre de um coração, que voou
é o afeto deixado nas veias de um coração que ficou
é a certeza da eterna presença da vida que foi, na vida que vai
é saudade da boa, feliz cantar!

Que foi, foi, foi
foi bom e pra sempre será
mais, mais, mais
maravilhosamente amar.

Nota: é saudade da boa.
SAUDADE DA BOA. Daquelas saudades que não machucam e não constrangem... são deliciosamente saudosas... verdadeiras. Decorrentes de momentos que foram bem vividos, intensamente vividos e, por isso também, tão dignos de serem lembrados.
Curioso, mas fato: hoje me lembrei de uma entrevista que li certa vez com a escritora Lucivânia Fernandes, hoje, Cássia Fernandes. Na entrevista, questionada sobre qual era o seu maior amor, ela brilhantemente respondeu: "O último. Este é sempre o maior amor".
Eu, se instada a responder a mesma pergunta, certamente faria do mesmo modo, porque sinto exatamente isso.