quarta-feira, 22 de junho de 2011

O que é saudade pra você?

http://www.youtube.com/watch?v=75pwlMogDwM

Palavras
(Marcelo Frommer/Sérgio Britto)

Palavras não são más
palavras não são quentes
palavras são iguais
sendo diferentes

Palavras não são frias
palavras não são boas
os números pra os dias
e os nomes pra as pessoas

Palavra eu preciso
preciso com urgência
palavras que se usem
em caso de emergência

Dizer o que se sente
cumprir uma sentença
palavras que se diz
se diz e não se pensa

Palavras não têm cor
palavras não têm culpa
palavras de amor
pra pedir desculpas

Palavras doentias
páginas rasgadas
palavras não se curam
certas ou erradas

Palavras são sombras
as sombras viram jogos
palavras pra brincar
brinquedos quebram logo

Palavras pra esquecer
versos que repito
palavras pra dizer
de novo o que foi dito

Todas as folhas em branco
todos os livros fechados
tudo com todas as letras
nada de novo debaixo do sol.

Nota: a primeira gravação dessa música foi feita para o disco "Õ Blésq Blom", lançado em 1989. Esse disco traz, entre suas faixas, "Miséria", "Flores", "Deus e o Diabo", "O pulso" e "32 dentes".
Eu adoro essa música porque ela fala de um elemento de comunicação tão simples e tão necessário e que tanto utilizamos, diariamente.
Eu sempre tenho muito a dizer. Nem sempre com palavras.
Especialmente hoje senti saudades demais de muita coisa. Saudades demais.
Quem sabe, sabe.
Saudades que eu não sei definir, medir, explicar...
E hoje, estou assim: vestida de saudade viva.
Quanto tempo, quantos abraços, quantos beijos e quanto amor é capaz de matar tantas saudades?

"Quando o dilúvio passar
nada vai justificar
quanto tempo nós perdemos
quanto amor nós não fizemos..."
(Lero lero; Erasmo Carlos)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Porque era ele. Porque era eu".

http://www.youtube.com/watch?v=_JEsCzTinac&feature=related

Nota: o trecho abaixo foi retirado de um texto redigido no dia 23/05/2011.

"E eu pensei comigo mesma: foi impressão minha ou dissemos coisas demais um pro outro além disso, que a voz reproduziu? Sempre tivemos uma exímia comunicação no silêncio e não seria dessa vez que ela não estaria presente.
Bom, se for desvario meu, não tem problema... é só um a mais.

"Quanto tempo tenho pra matar essa saudade?"

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Amores serão sempre amáveis"

Futuros amantes
(Chico Buarque)

Não se afobe, não
que nada é pra já
o amor não tem pressa
ele pode esperar em silêncio
num fundo de armário, na posta-restante
milênios, milênios no ar

E quem sabe, então, o Rio será
alguma cidade submersa
os escafandristas virão explorar sua casa
seu quarto, suas coisas, sua alma, desvãos

Sábios, em vão, tentarão decifrar
o eco de antigas palavras
fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos
vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
que nada é pra já
amores serão sempre amáveis
futuros amantes, quiçá
se amarão sem saber
com o amor que eu, um dia,
deixei pra você.

Nota: foi uma conversa que eu tive com a minha gêmea que me trouxe à memória imediatamente essa música, devido ao fato de ter sido usada por ela a expressão "no fundo de um armário".
E é no fundo de um armário que agora, representativamente, está o afeto que se encerra.
Não vou falar em "coisas jogadas fora", porque acho isso agressivo e doloroso demais, sinceramente. Nada aqui é digno de ser jogado fora. Eu não vou jogar nada fora.
Não quero mais falar sobre isso.

quarta-feira, 16 de março de 2011

"Por você e por mim, até o fim da vida"

Sujeito oculto
(Heróis da Resistência)

Então não abra a porta
não deixe que eu te enxergue
por você e por mim
até o fim da vida

Então suporte o peso
de não ter mais que a sombra
de ser o lado escuro
da minha face oculta

Não me procure
não tente me conhecer
eu sou o outro atrás de você

Então carregue o lixo
de dentro dos meus olhos
por você e por mim
até o fim da vida

Então me traia sempre
me traia enquanto eu durmo
é tudo que nos resta
meu irmão, meu duplo

Apague as pistas
e as pegadas por nós.

Nota: depois de muitos anos, tive vontade de ouvir essa música novamente.
Eu a ouvia muito em 2003.
"Por você e por mim, até o fim da vida".
O fim da vida.
O fim de tudo?
O fim?
"Então carregue o lixo de dentro dos meus olhos, por você e por mim, até o fim da vida. Então me traia sempre, me traia enquanto eu durmo..."
Eu adoro essa frase pela complexidade de sentidos que ela me desperta.
Quanta coisa a gente enxerga e guarda, não consegue esquecer... quanto lixo a gente assimila e não consegue se desfazer.
Quantas sombras, quantos vultos...
E há quem passe a vida toda tentando suportar o peso de não ser mais que a sombra. Até o fim da vida.

"Quando a gente tenta
de toda maneira
dele se guardar
sentimento ilhado
morto e amordaçado
volta a incomodar".
(Revelação; Clodô - Clésio)

sábado, 12 de março de 2011

A menina do lado

http://www.youtube.com/watch?v=xEFs0TEUD6g

Nem cinco minutos guardados
(Sérgio Britto - Marcelo Fromer)

Teus olhos querem me levar
Eu só quero que você me leve
Eu ouço as estrelas conspirando contra mim
Eu sei que as plantas me vigiam do jardim

As luzes querem me ofuscar
Eu só quero que essa luz me cegue
Nem cinco minutos guardados
Dentro de cada cigarro
Não há pára-brisas pra limpar
Nem vidros no teu carro

Meu corpo não quer descansar
Não há guarda-chuva contra o amor
O teu perfume quer me envenenar
Minha mente gira, gira
Como um ventilador
A chama do teu isqueiro
Quer incendiar a cidade
Teus pés vão girando igual
Aos da porta-estandarte

Tanto faz qual é a cor da sua blusa
Tanto faz a roupa que você usa
Faça calor ou faça frio
É sempre carnaval no Brasil

Eu estou no meio da rua
Você está no meio de tudo
O teu relógio quer acelerar
Quer apressar os meus passos
Não há pára-raio
Contra o que vem de baixo

Tanto faz qual é a cor da sua blusa
Tanto faz a roupa que você usa
Faça calor ou faça frio
É sempre carnaval no Brasil.

Nota: a primeira gravação dessa música foi feita no acústico MTV, no ano de 1997, sucesso de vendas.
Antes de começar a cantar, Sérgio Britto cita uma frase de Luiz Melodia na qual ele brilhantemente diz: "Carnaval, Carnaval, Carnaval... eu fico triste quando chega o Carnaval".
Eu adoro essa música...
Acho poética, suave, melódica e ao mesmo tempo muito intensa.
Linda, linda, linda...
Não é por acaso que essa música ilustra esse post de hoje: ela não tem saído da minha cabeça.
O Carnaval desse ano, definitivamente, pela sua atipicidade e intensidade, muito significou... MUITO significou.
Eu sou a menina do lado. A menina do quarto ao lado.
A moça de expressão fechada, que se incomoda com o barulho alheio e reclama, mas que é compreensiva, aceitou as desculpas que você pediu e mostrou todo um lado quente e doce, tão guardado, tão abafado, tão sufocado...
A moça que fuma na janela com a amiga, com quem divide o quarto.
A moça da gargalhada escandalosa, gostosa.
A moça do olhar distante, de poucas palavras, que desperta atitudes, provoca sensações e não decepciona (definitivamente, não decepciona).
Aquela moça que ele não sabe se verdadeiramente se chama Marília, se tem a idade, a profissão e a origem que informou...
É... aquela moça...
Mal sabe ele a mulher que habita as formas da moça que ele conheceu.
Ela não imaginaria que os desdobramentos seriam esses...
E assim, foi.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Tempo, tempo, tempo, tempo...




Resposta ao tempo
(Aldir Blanc - Cristovão Bastos)

Batidas na porta da frente, é o tempo
eu bebo um pouquinho pra ter argumento
mas fico sem jeito, calado, ele ri
ele zomba do quanto eu chorei
porque sabe passar e eu não sei

Um dia azul de verão, sinto o vento
há folhas no meu coração, é o tempo
recordo um amor que perdi, ele ri
diz que somos iguais, se eu notei
pois não sabe ficar e eu também não sei

E gira em volta de mim
sussura que apaga os caminhos
que amores terminam no escuro, sozinhos

Respondo que ele aprisiona, eu liberto
que ele adormece as paixões, eu desperto
e o tempo se rói com inveja de mim
me vigia querendo aprender
como eu morro de amor pra tentar reviver

No fundo, é uma eterna criança que não soube amadurecer
eu posso, ele não vai poder me esquecer.

Nota: sobre o tempo há sempre muito a ser dito.
Com relação à essa música, que eu considero belíssima, percebe-se que o tempo volta pra nos cobrar, batendo em nossa porta. Nos censura pelo nosso sofrimento. Deixa claro que pode apagar aquilo que consideramos ferida em carne viva que não cicatrizará e ainda é cruel: assevera que amores terminam no escuro e sozinhos. O tempo que move os ponteiros dos relógios, muda as estações, transforma crianças em adultos, também aprisiona e escraviza, põe fim a paixões, sejam elas pré-maturas ou maduras e sente inveja de quem morre de amor pra tentar reviver, porque isso, ele não consegue.

"Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada
do tempo que transforma todo amor em quase nada
mas quase também é mais um detalhe
um grande amor não vai morrer assim
por isso, de vez em quando, você vai lembrar de mim
não adianta nem tentar me esquecer
durante muito tempo em sua vida eu vou viver".
(Detalhes; Erasmo Carlos - Roberto Carlos)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Você me ama, mas de repente..."


"Você diz que ama a chuva, mas você abre seu guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo: você também diz que me ama".
(William Shakespeare)

"Você me chama
eu quero ir pro cinema
você reclama
meu coração não contenta
você me ama, mas de repente
a madrugada mudou
e certamente
aquele trêm já passou
e se passou, passou
daqui pra melhor
foi..."
(Go back; Sérgio Britto - Torquato Neto)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Por não conhecer você




Uniformes
(Leoni - Léo Jaime)

Eu ouço sempre os mesmos discos
repenso as mesmas idéias
o mundo é muito simples
bobagens não me afligem

Você se cansa do meu modelo
mas juro, eu não tenho culpa
eu sou mais um no bando
repito o que eu escuto
e eu não te entendo bem

E quantos uniformes ainda vou usar?
E quantas frases feitas vão me explicar?
Será que um dia a gente vai se encontrar?
Quando os soldados tiram a farda pra brincar?

A minha dança, o meu estilo
e pouco mais me importa
eu limpo as minhas botas
não sou ninguém sem elas

Você se espanta com o meu cabelo
é que eu saí de outra história
os heróis na minha blusa não são os que você usa
e eu não te entendo bem

E quantos uniformes ainda vou usar?
E quantas frases vão me explicar?
Será que um dia a gente vai se encontrar?
Quando os soldados tiram a farda pra brincar?

Nota: insight surgido do nada a adequação que essa música denunciou com uma conversa pelo messenger que tive com uma pessoa ontem.
Pessoa esta com quem eu já tive um relacionamento que foi da amizade para um envolvimento emocional mais intenso.
É engraçado, mas existem pessoas que a gente tem a impressão de ter conhecido, de saber muito sobre ela e, na verdade, a gente acaba convencido de que não sabe nada.
Fiquei surpresa. Fiquei muito surpresa com a iniciativa dessa pessoa em vir conversar comigo, assim, como se tal diálogo fosse natural.
Não, não é natural. Longo distanciamento, enfraquecimento dos laços de amizade, fim definitivo do envolvimento emocional mais intenso que um dia aconteceu, e que eu trago no peito com um quê de carinho.
Eu não te entendo bem porque sequer conheço você. Já conheci você, mas o que você se tornou eu desconheço e me recuso a querer conhecer: desdiz de tudo que nos uniu.
Se você vier a ler isso, você a quem este post se refere, por favor, deixe as coisas como estão.
A sua vida não faz parte da minha mais, não tem qualquer relevância pra mim mais e eu quero que a minha vida pra você tenha o mesmo significado.
A minha personalidade permanece inalterada: nunca deixei de ser a mesma pessoa desde o dia em que nasci.
"Poison Heart" ainda é uma música importante pra mim. Por tudo.
Não leve a mal: apesar de tudo o que foi vivido, por não conhecer você, prefiro manter a distância que já vinha sendo mantida anos antes.
Eu sei que você me entende.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Marília está aqui de passagem. Num mundo que não é nem meu e nem seu.

http://www.youtube.com/watch?v=miJXlOXvpao

Bom senso
(Tim Maia)

Já virei calçada maltratada
e na virada quase nada
me restou a curtição

Já rodei o mundo quase mudo
no entanto num segundo
este livro veio à mão

Já senti saudade
já fiz muita coisa errada
já pedi ajuda
já dormi na rua
mas lendo atingi o bom senso
a imunização racional.


Nota: primeiro post de 2011 e há sempre muito a ser dito.
Engraçado, mas tenho a impressão de que essa música faz parte da trilha sonora de "Verônica", filme brasileiro estrelado por Andréa Beltrão e Marco Ricca, cuja trilha sonora é assinada por Branco Mello e Emerson Villani.
Conversando com duas amigas amadas na sexta-feira, uma delas citou a primeira frase da letra dessa música e eu guardei na memória pra depois ouvi-la, porque achei de uma densidade imensa...
Penso eu que não há quem ouça essa música e não se identifique, por sua simplicidade e veracidade.
Quem vive, insiste, persiste, dá murro em ponta de faca, passa recibo, ama e dá vexame (obrigada, Roberto Freire) sofre, encontra conforto nas pequenas coisas e em pessoas que muito representam, acha quase que por acaso respostas que passamos a vida inteira procurando em pequenas mensagens, em outdoors, em cartões, em livros, pensa, reflete, devaneia e divaga sozinho, imerso na própria solidão ou até mesmo na própria felicidade.
Vivendo, a gente sente saudades, sim... De tudo o que foi e tudo o que deixou de ser. Tudo que é memória e tudo que é quase memória (obrigada, Carlos Heitor Cony). Pede ajuda quem tem humildade e consciência da própria impotência diante de determinadas situações: todo mundo precisa de ajuda. Há quem peça e há quem não peça. Há quem se liberte e há quem se contente em permanecer enclausurado na própria angústia ou no próprio orgulho, que igualmente maltrata e consome.
Tive ontem uma conversa maravilhosa com uma amiga que amo muito e, entre outras coisas, disse o seguinte:
"Marília ouviu muito "Sentado à beira do caminho"
Marília ouviu muito "Flores do mal"
Marília ouviu muito "Ainda lembro"
Marília ouviu também "Não se esqueça de mim"
Marília ouvia e chorava rios de lágrimas
lágrimas sem recurso
mas Marília sabe que tudo se ajeita
Marília não tem más intenções
Marília fez de um tudo pra que tudo desse certo
Marília não é Deus
e o mais importante: MARÍLIA ESTÁ AQUI DE PASSAGEM
num mundo que não é nem seu e nem meu"
As referências na terceira pessoa são dedicadas a ninguém menos que outra amiga amada (obrigada, Fernandinha!).
Que 2011 prospere e muitas e muitas reflexões se façam presentes nesse blog.
O que desejo é o de sempre: saúde. Paz. AMOR. AMOR. AMOR.
Bom senso, discernimento e plenitude pra todos nós.