terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O que afigura-se inexplicável, é apenas passível de se sentir.

http://www.youtube.com/watch?v=T_seMS5GHe4

Vapor barato / Flor da pele
(Waly Salomão - Jards Macal - Zeca Baleiro)

Oh, sim, eu estou tão cansado
mas não pra dizer
que eu não acredito mais em você
com minhas calças vermelhas
meu casaco de general
cheio de anéis

Vou descendo por todas as ruas
e vou tomar aquele velho navio
eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus
e não me importa, honey

Minha honey baby
baby, honey baby
oh, minha honey baby
baby, honey baby

Oh, sim, eu estou tão cansado
mas não pra dizer
que eu tô indo embora
talvez eu volte
um dia eu volto
mas eu quero esquecê-la
eu preciso

Oh, minha grande
oh, minha pequena
oh, minha grande obsessão
Oh, minha honey baby
baby, honey baby
oh, minha honey baby
honey baby, honey baby, ah

Ando tão à flor da pele
que qualquer beijo de novela me faz chorar
ando tão à flor da pele
que teu olhar, flor, na janela me faz morrer
ando tão à flor da pele
que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
ando tão à flor da pele
que a minha pele tem o fogo do juízo final.

Um barco sem porto, sem rumo, sem vela.
Cavalo sem sela.
Um bicho solto, um cão sem dono, um menino, um bandido,
às vezes me preservo, noutras suicido.

Nota:
Fiquei emocionada ao saber que a letra dessa música é do poeta Waly Salomão, concretista brasileiro dos melhores.
Da sua obra, destaco o poema "Balada de um vagabundo", composição assinada em parceria com Cazuza e Frejat e gravada por Cazuza no primeiro álbum solo deste, álbum este cuja música de trabalho ou, como bem denomina Eduardo Dusek "boi de piranha", foi "Exagerado", hit que dispensa qualquer comentário.
"Balada de um vagabundo" traz em sua composição três frases que muito me agradam, quais sejam:
"Um vício só, pra mim, não basta. É uma inflação de amor incontrolável".
Inflação de amor... isso não é deslumbrante? Adorei essa construção.
Adiante, a frase aparece assim: "Um vício só pra mim é pura cascata!" Repare na mudança do significado que foi operada nas frases.
A terceira, é a seguinte: "Maracujá de gaveta, num prédio vazio, num terreno baldio: sepultado e, logo após, abandonado".
Coisa pra concretista admirar e entender.
Bom, quanto à letra em questão, o que eu tenho a dizer é que considero essa música de uma beleza sem tamanho e muito densa.
Obsessões... eu entendo bem disso...
Não que isso seja bom, isso é apenas uma constatação: entendo de obsessões.
Nelson Rodrigues se definia como uma flor de obsessão e eu tomei pra mim o direito de também assim me definir. Achei pertinente e me coloquei a imaginar como seria uma flor de obsessão...
Seria uma rosa, certamente, cujas pétalas teriam um brilho capaz de ofuscar a visão. Atrair, seduzir... Seria vermelha: cor de sangue. Teria um perfume escandaloso, desses de desafiar a ciência a explicar o estranho efeito que toma de assalto os homens que se aproximam para senti-lo.
Uma flor de obsessão.
Uma dessas intensidades arrebatadoras, inexplicáveis.
O que afigura-se inexplicável, é apenas passível de se sentir.
Pra concluir, "Flor da pele", no fim, assim diz: "Às vezes, me preservo. Noutras, suicido".
É o preço que se paga pela intensidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário