terça-feira, 7 de setembro de 2010

Revival nº II

Engraçada e suspeita é a sensação que agora me toma: difícil de se definir.


É solidão. Solidão.

Solidão, a palavra em si, remete à imagem de tristeza, de ser ou estar sozinho, ou seja, sem companhia...

O que me acompanha nessa noite de sábado em que resolvi estar em casa por falta de outra possibilidade, é um copo de coca cola light com gelo e Buchanan’s. Não devo desmerecer: é uma bela companhia.

As divagações que tomaram conta do meu pensamento hoje, em decorrência dessa solidão etílica, me trouxeram a lembrança de uma música que há muito tempo ouvi no rádio. É uma música antiga e que, não por isso mas de certo por falta de mais recursos, não consigo encontra-la, nem ao mesmo sua letra, embora me lembre de algumas frases. Uma delas, a que mais me marcou, dizia: “No telefone, digo alô à solidão...”

Isso diz tudo.

No telefone, sem ter a quem atender, digo alô ao meu estado de espírito que é sempre solitário, é sempre esquecido, ingrato, sofrido... só.

Adjetivando muito, nem sempre é necessário pra que se consiga dimensionar melhor ou sensibilizar melhor o que me traduz o sentimento de solidão. Cada pessoa sente e sofre de um jeito, ou melhor, devo dizer que cada pessoa sente e sofre (ou não) do seu próprio jeito, com drama ou não, com vontade ou não, com culpa ou não.

É certo que estar sozinha enquanto se deveria, pelo menos pela circunstância do costume convencionado de se sair pra se divertir num sábado a noite, traz pensamentos que muitas vezes tendemos, com todas as nossas forças (ou não), afastar. E eu penso... não nego. Penso e não me reprimo por pensar. Eu sei que tenho o direito de pensar e de querer pensar em pensar em tudo o que fez parte do meu passado, principalmente de um passado que hoje ainda se configura presente. Um presente de uma relação que eu abandonei sem olhar pra trás, e que hoje me causa um sentimento estranho, uma raiva de mim mesma por não ter dito, gritado, escancarado, esfregado a mão na cara de quem me fez mal, como quem dá um tapa na cara com direito a estalo, estardalhaço e platéia. Que seja demonstração de fraqueza, que seja infantilidade e prova inconteste de imaturidade: é algo que ainda me incomoda.

Quando eu páro e penso em tudo, me sinto traída, enganada, rejeitada, humilhada... mas quando quero analisar melhor isso tudo, procuro nos detalhes que foram importantes a grandeza de mim que emprestei à essa relação que, mesmo antes de começar (se é que existiu alguma relação), era fadada ao fracasso. É certo que a solidão que é deixada em troca da presença que já existiu e já deu cor à vida, não é nada apreciável e querida, mas existe e subsiste. É importante aprender a aceita-la a acreditar que não se morre por senti-la como companhia. Sim, a solidão como companhia. Essa companhia traz consigo também a capacidade humana individual de questionarmos tudo, inclusive o fato de estarmos questionando.

É importante que tenhamos tempo, disposição e coragem pra nos ouvir de vez em quando... isso é importante e necessário. Ouvir o pranto engasgado que não derramamos naquele dia porque estávamos sendo observados, porque havia gente demais por perto. Ouvir o estouro que rompe o peito, quando o coração sente e clama por amor... e clama pelo amor que dá de graça, sem cobrar, e que espera de volta... na ingenuidade e castidade dos mais puros sentimentos. Ouvir as sábias palavras que as pessoas nos dizem e que não assimilamos. Ouvir as imagens do óbvio, que gritam e se movimentam incessantemente diante de nós mesmos e que insistimos em ignorar por sermos ignorantes e, pra depois, nos arrependermos de não termos parado naquele ponto e pensado se devíamos ou não prosseguir. Naquele momento, ainda havia a possibilidade de se fazer a escolha certa, agora, já é tarde demais.

O arrependimento e a dor que não deveriam existir e que podiam ser evitados, se tivéssemos sido mais cautelosos e mais responsáveis com os nossos próprios corações, torna-se inevitável e põe-se de pé diante de nossa imagem, imponente e cruel, vil em sua essência. E é sozinhos que enfrentamos. Sozinhos. A luta é solitária, numa caminho comprido e cheio de armadilhas. É o preço que se paga por esperar demais, por acreditar demais, por ser suscetível demais... por apaixonar-se e oferecer o próprio coração numa bandeja. Tudo tem seu preço nessa vida, eis a grande lição.

Não é função da vida materializar os sonhos que semeamos. É função da vida tão-somente seguir o seu curso. Lembro-me agora do meu livro de Ciências da 1ª série, que esquematizava a vida dos seres vivos da seguinte maneira: Nasce, cresce, reproduz-se e morre. Existem variações, inclusive na ordem ou no não-acontecimento das duas fases intermediárias, mas os extremos não mentem e não se desviam do que lhes foi imposto. O destino é um só. Estamos todos de passagem. E estamos todos, sempre, esperando alguma coisa ou alguém. Sempre. Todo dia, toda hora. E cabe a mim afirmar, por ter a certeza, que as esperas solitárias são sempre mais produtivas e ricas, se não sempre, na maior parte das vezes. A tendência, em mim, é essa.


Nota: texto redigido no dia 18/05/2007.
Consta do editor essa data, mas acredito que tenha sido redigido antes disso, porque posteriormente efetuei correções e salvei, motivo pelo qual consta do arquivo a data acima informada.
É um dos textos que eu mais gosto, por sua densidade e por tudo o que ele representa.

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